quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Uma palavra às indústrias sérias que buscam alternativas corretas à lenha do cerrado.



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Uma palavra aos gestores de indústrias sérias que buscam substituir o uso de lenha do cerrado por soluções alternativas ecológicas



Venho compartilhar a experiência da realidade do potencial de uso de insumos alternativos à lenha do cerrado e os problemas que existem nesse mercado produtivo de biomassa.

1. O insumo com o qual estamos fazendo as experiências de substituição da lenha do cerrado, vem do aproveitamento de resíduos de biomassa vegetal.

2. Onde é encontrado este resíduo para compor os roletes de biomassa vegetal apropriados para queima?

São encontrados nos campos produtivos de sementes de pastagens. São campos com plantio de gramíneas conhecidas e também de leguminosas com características de talos lenhosos e folhagem abundante.

A biomassa nesses campos de produção de sementes é abundante e existem máquinas apropriadas para compactar essa biomassa em roletes apropriados para queima nos fornos industriais.

Neste blog estamos reproduzindo uma experiência feita em uma cerâmica, com resultado satisfatório. Aqueles que se interessarem podem ler essa experiência neste blog sob o titulo


ALTERNATIVAS PARA SUBSTITUIR A LENHA DO CERRADO.

Mas, nem tudo é tão simples assim. Quero compartilhar agora os problemas que existem para que essa biomassa compactada vegetal chegue a ser utilizada de forma regular e perene pelas indústrias.

Ausência de investimentos financeiros e técnicos para apurar o TCI - Total Cost Investment

a) De forma geral, salvo raras exceções, os campos produtivos de sementes, de onde podem ser retirados os resíduos vegetais para produção dos roletes para queima nos fornos industriais, estão nas mãos dos chamados “sementeiros” (geralmente produtores informais) e dos produtores de feno (a maioria também informal) que aproveitam os resíduos para suprir a alimentação animal em épocas sazonais.


b) Como disse, salvo raras exceções, é um mercado com grande informalidade e carente de empreendimentos organizados. A gestão desses campos não tem qualquer intervenção técnica ou científica tais como:

- Ausência de estudos de custos de produção de sementes, contabilmente aceitos (com planilhas técnicas apropriadas);

- Ausência de cálculos de custos do potencial dos resíduos vegetais que podem ser transformados em roletes;

- As propostas de preços de vendas desses roletes de biomassa compactada são feitas de forma aleatória, conforme a necessidade financeira de cada produtor, pois afinal de contas, os resíduos vegetais quando não aproveitados para fabricação de feno, não tem qualquer outra utilidade.

Como são organizações informais, não existe confiabilidade no fornecimento perene e regular da biomassa compactada e também não existe garantia de qualidade, pois os processos produtivos à campo, carecem de desenho e implantação de processos produtivos corretos – geralmente são pessoas com parcos recursos financeiros (salvo exceções) e que não tem a visão de investir na qualidade de processos produtivos.

É um mercado praticamente informal (salvo exceções) sem organização de gestão adequada às normas minimamente aceitas e a cultura organizacional é praticamente inexistente.

Esta é a realidade que percebemos desse mercado e seu conhecimento é muito importante para as indústrias sérias que pretendem de fato substituir a lenha cortada dos estoques nativos por alternativas ecologicamente adequadas.

PROPOSTA DE SOLUÇÕES ESTUDADAS NO INSTITUTO SAMAÚMA ECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

Cito algumas delas:

1. Que a atividade de produção de roletes de biomassa vegetal com aproveitamento residual de produtos dos campos de produção de sementes – atualmente existentes - que essa atividade seja organizada através de um Arranjo Produtivo, por ser uma fonte econômica ecologicamente correta e estratégica para o estado de MS. O arranjo produtivo deve convidar e envolver aqueles produtores que estejam dispostos a aceitar projetos organizacionais adequados e que ofereçam segurança de fornecimento com cálculo adequado de custos e preços a serem praticados no mercado.


2. O projeto de Arranjo Produtivo deverá, sem dúvida, contemplar consultoria organizacional, consultoria técnica, consultoria de mercado e financiamentos para viabilizar os empreendimentos de produção de biomassa compactada vegetal como insumo substitutivo da lenha do cerrado, a ser utilizado nos fornos industriais.


3. Outra alternativa de solução é a própria indústria, isoladamente ou em conjunto com outras indústrias, organizar campos experimentais produtivos que deverão ser geridos e monitorados, com objetivo de obter os dados básicos de:


- custos de produção por hectares;


- espécies de gramíneas e leguminosas mais eficazes;


- dimensionamento dos roletes apropriados ao uso nos fornos industriais, etc.


4. Conclamar órgãos já instituídos, principalmente a FIEMS ou Associações de Indústrias, para juntos ao Instituto Samaúma e sua equipe (técnicos e universidades) firmar convênios de cooperação técnica para o desenvolvimento desta atividade, de forma organizada e monitorada, visando atender ao mercado sul-mato-grossense que tem uma demanda real de insumos alternativos para substituição da lenha advinda do cerrado, que já se torna insustentável. A aquisição da lenha do cerrado, uma grande parte é feita no mercado informal, com características imputáveis de crime ambiental, haja vista, o alto volume de notificações e apreensões feitas pelos órgãos ambientais. Como já citei anteriormente, esta contabilidade ambiental de retirada dos estoques de matas nativas do cerrado é altamente deficitária para o meio ambiente e para a sociedade, causando também prejuízos às empresas que se sujeitam a comprar a lenha ilegal pela alta necessidade de produção e falta de opções alternativas.

O Instituto Samaúma, como afirmamos, não pretende detectar os vilões, com cnpj e endereço, nem depreciar os atuais produtores “sementeiros” ou "produtores de feno" mas diagnosticar a realidade do mercado e oferecer estudos que possam viabilizar soluções que beneficiem a sociedade produtiva, os empreendedores, as indústrias e principalmente preservem o meio ambiente e os recursos florestais e naturais envolvidos.



Ramon M Padilha

Diretor executivo do Instituto Samaúma Ecologia e Desenvolvimento

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