terça-feira, 25 de novembro de 2008

Critérios futuros em rastreabilidade bovina?



Fotomontagem R.M.Padilha : créditos - fonte vaca - internet: frodobalseiro.blogspot.com

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Sinal amarelo na futura adoção de possíveis critérios mais rígidos de rastreabilidade bovina na base do provimento de carne certificada para exportação à União Européia e outros países.


Para que os exportadores de carne nos diversos estados brasileiros possam concretizar seus negócios com compradores de outros países, é óbvio, devem ter o perfeito alinhamento legal de seus processos produtivos de carne bovina destinadas à exportação, frente às normas da tão conhecida “rastreabilidade”. Não faz muito tempo, algumas regiões brasileiras e principalmente o nosso estado de Mato Grosso do Sul, sofreram o embargo para a exportação de carne bovina por estar em falta com os critérios metodológicos que compõe a rastreabilidade. No caso sulmatogrossense - o não-alinhamento integral com os protocolos de controle da aftosa, principalmente na região da fronteira com países vizinhos, foram decisivos na decretação do embargo.

Segundo algumas certificadoras, o Brasil adota alguns modelos teóricos para o processo de rastreabilidade, que são aplicados também a produtos alimentícios - Filière, Supply Chain Management, sendo os principais. Dessa forma se obtém a certificação das ERAs – Estabelecimentos Rurais Aprovados no Sisbov. A Folha do Fazendeiro, edição nº 299 da Acrissul – em seu artigo “MS vai voltar a exportar carne para a Europa”, menciona: “O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) confirmou no último dia 2 de outubro que a carne bovina in natura produzida em Mato Grosso do Sul – integralmente, sem distinção de áreas de exclusão... voltará a ser exportada para a União Européia...”.

O embargo para exportação da carne bovina sulmatogrossense foi superado, pois rapidamente os órgãos governamentais e as associações de produtores se imbuíram na prática de ações positivas que puderam neutralizar as deficiências que impediam a certificação desses produtos de exportação. Felizmente, para todos - governo e pecuaristas, o canal de exportação já está liberado e as negociações estão sendo retomadas.

Mas, então - tudo agora são flores?

Segundo o superintendente da SFA/MS, Orlando Baez: “Estivemos fora, mas vamos ter que atender a estas exigências para voltar. Será uma corrida contra o tempo? Sim. Mas dentro de um cenário real” (cfe. citado no artigo acima mencionado).

Quero aproveitar para trazer um assunto, que o bom empreendedor da bovinocultura, com visão de futuro, penso, não deve ignorar.
Pense comigo: que tranqüilidade seria se os modelos teóricos e os critérios que atualmente são adotados para qualificar o status de carne exportável continuassem sendo os mesmos! Mas, dentro em breve, está sujeito, pela pressão internacional, que aqueles critérios venham mudar e se substitua o portfólio de exigências pela inclusão de mais itens de valor ambiental.

I – Devastação de florestas nativas para produção de matéria prima de produtos industrializados na área de cosméticos

Cito o relatório do Greenpeace com o título “Queimando Borneo”, cujo relatório, expõe os impactos negativos da produção de dendê - onde florestas nativas da Indonésia estão sendo devastadas e sofrendo os impactos negativos provenientes da implantação de grandes plantios comerciais de palma para extração do óleo dendê.
Nesse relatório está citada a empresa que produz algumas das marcas mais famosas de sabonetes, como uma aliada do panorama de destruição, já que ela compra dendê – que é a matéria prima para a fabricação daqueles famosos sabonetes. Estão sendo destruídas as florestas alagadas de turfa para cultivar a palmácea.
A manutenção desses ecossistemas, que vem sendo destruídos, são vitais nem só para os orangotangos e outras espécies ameaçadas, mas também para a estabilidade do clima - essas florestas estocam grandes quantidades de carbono.

Esse relatório do Greenpeace, divulgado em todo o mundo, vem motivando os consumidores a despertar para o fato de examinar a sustentabilidade ecológica dos produtos que utiliza ou consome. Eu mesmo, que comprava aquela marca de sabonete e shampoo não o faço mais. A seguir o endereço do vídeo publicado pelo Greenpeace.

http://br.youtube.com/watch?v=3dZvzFm72V4

II – Sinal amarelo para os produtores e exportadores de carne bovina

Meu objetivo não é o de abrir um espaço para polêmicas e o famoso jogo do gato e do rato. Mas o de interpretar os fatos, avaliar o cenário atual (o momento que MS enfrenta na retomada dos processos de exportação de carne bovina para o mercado europeu) e trazer um sinal de alerta para o bom entendedor.

Como assim?

No recente fato – o embargo de exportação de carne bovina que ocorreu em Mato Grosso do Sul, providências rápidas foram tomadas e a normalização vem ocorrendo, depois de um período, já que o Estado não exporta desde 2005.

No caso de exigências ambientais, que venham a ocorrer, as providências não são tão imediatas assim. O restabelecimento de matas ciliares, com o plantio de árvores nativas, demanda mais tempo, em torno de 7 a 12 anos, exigindo documentos mais complexos que envolvem o equilíbrio ecológico:
inventário das florestas nativas plantadas dentro do programa de recuperação ambiental; diversidade de espécies florestais nativas;
inventários de flora agregadora;
situação de acolhimento de fauna e sua biodiversidade nos novos refúgios recuperados para a vida silvestre;
grau de recuperação das micro-bacias e recursos hídricos, tais como: índice de vasão dos cursos de águas;
tabela dos componentes de qualidade das águas; pesquisas científicas nas áreas de intervenção para recuperação ambiental, etc...

No caso de existência de plantios de floresta comercial – espécie eucaliptus e outros...
demonstração de corredores ecológicos naturais;
demonstração de talhões comerciais com proteção ciliar de matas nativas;
indicadores de monitoramento de sustentabilidade de fauna e flora nos plantios comerciais;
indicadores de proteção de recursos hídricos – nascentes, cursos de águas (córregos, riachos, ribeirões, rios...) entre outros, tais como planos de manejo de áreas, etc.

III – Tempo de transformar

Estamos vivenciando um momento importante na história ecológica mundial, quando uma nova geração ecologicamente mais consciente vem se formando. São temas comuns nas escolas as seguintes questões:
aquecimento global;
seqüestro de carbono;
importância dos recursos hídricos;
importância da preservação das florestas nativas – em nossa região;
importância das áreas nativas do cerrado e das espécies da fauna (animais, aves...) e flora com toda a sua rica biodiversidade.

A pecuária é historicamente vista como um dos importantes vilões dos recursos naturais do cerrado. Mas este cenário caótico pode ser transformado, através da mudança de atitudes do empreendedor rural, buscando adequar o seu empreendimento com critérios que elevem a atividade econômica rural ao status de ecologicamente correta.

Esta reflexão é mais um alerta, pois a recuperação ambiental demanda mais tempo, do que o desafio ora vencido – o embargo à exportação da carne bovina com critérios de certificação ora vigentes.

É sujeito, dentro de 2 ou 3 anos, que esses critérios venham a contemplar um maior rigor na questão ambiental, cito como exemplo: adoção de programas de carbono zero.
Para não sermos “pegos de calças curtas” é importante que os sindicatos, associações e as próprias políticas públicas governamentais venham prever com antecedência as possíveis exigências e fomentar um processo preventivo que venha melhor qualificar as exigências de certificação para os negócios agropecuários em função de futuros critérios, mais rígidos, que certamente farão parte de novas normas internacionais para exportação de produtos brasileiros e também para a carne bovina de MS.

a) recuperar e revitalizar as matas ciliares (margens de cursos de águas);

b) fazer o sombreamento correto das áreas de pastejo (visando o bem estar do gado e a sua proximidade com a água);

c) adotar espécies de pastagens que contribuam para o seqüestro de carbono e fixação de nitrogênio;

d) manter inventário de flora e fauna atualizados e implantar indicadores de monitoramento das espécies recuperadas e que existem na propriedade;

e) implantar um plano de manejo apropriado a cada propriedade rural;

f) procurar adequar-se ao maior número de critérios de equilíbrio ambiental;

g) buscar previamente a certificação ecológica dos seus produtos;

h) reservar parte de seus lucros para investimentos em responsabilidade social e ambiental notoriamente reconhecidas como justas.
Ramon M Padilha
Instituto Samaúma Ecologia e Desenvolvimento

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